"Era uma vez um menino de seu nome Portugal. Era um menino baixinho pouco mais do que magrinho que vivia à beira mar. Mandavam nesse menino homens de sisudo ar; o maior de todos eles tinha um nome: Salazar.
Era este o braço de outros que obrigavam o menino a não mais do que trabalhar. E que nem sequer lhe davam - "Estudar faz mal aos olhos!" - tempo de na escola andar. (...)
Mas Portugal ia olhando à sua volta e pensando: "Por que são livres as árvores, nuvens que cruzam o céu, peixes que cortam as águas e outros tantos que não eu?" (...)
Mas havia nessa terra estendida à beira mar, e onde todos tinham medo, muito medo de falar, mil ouvidos que ouviam, mil olhos que tudo viam, homens que todos temiam e que sem ninguém dar conta já pela noite levavam para uma prisão escura o menino Portugal. (...)
Falando com seus amigos e enfrentando muitos perigos fizeram greves, protestos, foram p'rà (sic) rua com gestos de homens e mulheres crescidos. Vieram guardas, polícias - não os que agarram ladrões e cuidam da segurança, mas outros que tudo viam, tudo ouviam, e prendiam quem não silenciasse a voz. E bateram e levaram, torturaram e mataram muitos dos que já diziam: "Vejam bem: não estamos sós!"
in ROMANCE do 25 de ABRIL de João Pedro Mésseder
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