Manuel António Pina (Fernando Veludo/nFactos)
O jornalista e escritor português Manuel António Pina é o vencedor do Prémio Camões 2011, o mais importante galardão de língua portuguesa. O cronista foi escolhido por unanimidade por um júri constituído por dois brasileiros (o poeta António Carlos Secchim e a ficcionista Edla Van Steen), dois portugueses (a ensaísta e poetisa Rosa Martelo e o ensaísta e professor de literatura brasileira Abel Barros Baptista), um angolano (a poetisa e ficcionista Ana Paula Tavares) e um são-tomense (a ensaísta Inocência Mata).
Os membros do júri reuniram-se, quinta-feira, na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, para escolher o vencedor.
Manuel António Pina nasceu no Sabugal, Guarda, em 1943, e formou-se em Direito em Coimbra antes de começar a trabalhar como jornalista em jornais, rádios e televisão.
Reconhecido como um dos melhores cronistas de língua portuguesa – ainda hoje assina uma crónica diária no Jornal de Notícias –, Manuel António Pina publicou dezenas de livros de poesia e de literatura para crianças. Em 2003 lança-se na ficção “para adultos”, com “Os Papéis de K.”.
Embora a sua ficção seja menos conhecida internacionalmente, a sua poesia está traduzida na generalidade das línguas europeias. O seu mais recente livro de poemas, intitulado “Os Livros” (Assírio & Alvim, 2003) venceu os prémios de poesia da Associação Portuguesa de Escritores e a da Fundação Luís Miguel Nava.
NA BIBLIOTECA
O que não pode ser dito
guarda um silêncio
feito de primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiadamente tarde,
quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros alexandrinos.
Na biblioteca, em cada livro,
em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,
as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos deuses.
Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
o poema está só.
E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta.
In Poesia Reunida
NA BIBLIOTECA
O que não pode ser dito
guarda um silêncio
feito de primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiadamente tarde,
quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros alexandrinos.
Na biblioteca, em cada livro,
em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,
as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos deuses.
Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
o poema está só.
E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta.
In Poesia Reunida
Mais informação aqui.
A Subcoordenadora de Língua Portuguesa, Professora Fernanda Rebelo
Sem comentários:
Enviar um comentário